O iconógrafo é aquele que transcreve os ícones que foram legados pela tradição da Igreja, e para cumprir esta tarefa necessita da fé, conhecimentos técnicos e sensibilidade...

-Frei Celso-

Técnicas

Desenho e pintura: diferença e aspectos em comum

            A primeira distinção que devemos fazer está relacionada com o suporte. O conhecimento desta relação é técnica e fundamental para compreendermos o que pretendemos construir ou discutir tanto em desenho quanto em pintura.
No desenho, normalmente, acontece o contato direto do suporte com o material que é utilizado na produção da linguagem gráfica. Os suportes não são preparados com uma base de preparação qualquer. O material utilizado (grafite, tinta, carvão, lápis de cor, etc.) impregna o suporte e passa a fazer parte dele. Se o suporte for destruído, também a obra gráfica se perderá.
Na pintura, normalmente, a película pictórica, não está em contato com o suporte. A matéria (tinta) não impregna o suporte. O suporte é preparado com uma base de preparação adequada à cada técnica pictórica específica. Se o suporte for destruído a pintura (película pictórica) poderá ser salva pois aderiu à base de preparação..
O desenho apresenta um maior grau de fragilidade se comparado com a pintura. Sua durabilidade está relacionada, hoje, com a qualidade e conservação do suporte ou seja do papel (celulose) sobre o qual foi realizado.
Desenho colorido ou com cor não é pintura. Na Antigüidade e até pouco tempo o desenho podia ter no máximo três cores: vermelho (sangüínea), branco (alvaiade, giz branco) e preto (carvão, nanquim e grafite). Muitas vezes era executado sobre um suporte colorido. No desenho a cor serve para evidenciar os vários aspectos da linguagem gráfica ou ainda o próprio suporte (colorido ou não). O desenho com cor refere-se ao aspecto gráfico da pintura. Pode-se portanto discutir a pintura dentro do desenho mas nunca o desenho como pintura. Apenas o elemento gráfico do desenho pode ser utilizado na pintura. No desenho há poucas sobreposições de cor. Em pintura podemos sobrepor quantas cores e camadas de tinta desejarmos, devido ao tipo de suporte utilizado e a preparação do mesmo.
Em pintura as películas pictóricas não devem confundir-se com o suporte. Não devem ultrapassar os limites da base de preparação. Se isto acontecer teremos um tingimento
Um desenho (croquis) realizado como ponto de partida para uma pintura (desenho preparatório) é totalmente diferente de um desenho realizado como linguagem gráfica.
Pode-se também desenhar com uma ponta seca ou pressionando um material mais resistente sobre uma superfície macia produzindo apenas linhas incisas (sulcos) sem utilização de cor. Podemos chamar este procedimento de desenho inciso
            Muitos amadores pensam que qualquer desenho deve ser monocromático, para ser desenho. É difícil estabelecer uma fronteira clara entre o que é desenho e o que é pintura, pois muitos materiais utilizador para produzir cor estão indiscutivelmente ligados à linguagem gráfica (lápis de cor, giz colorido, pastel seco e oleoso, etc.).
(Frei Celso Bordignon, Caxias do Sul, março de 2001)

Técnica da pintura a têmpera
            O termo têmpera provém do latim temperare, significa juntar ou misturar na proporção justa. As têmperas são o resultado da justa mistura de um determinado aglutinante com um pigmento.  A pintura a têmpera engloba em sua definição todos os processos de pintar cujo aglutinante é solúvel em água (exceto a aquarela). A tinta é elabora para ser utilizada no momento em que o artista está pintando, não pode ser utilizada noutro dia, pois deteriora-se Normalmente a têmpera toma o nome do aglutinante que é utilizado na sua elaboração. Exemplo: aglutinante de ovo – têmpera a ovo; aglutinante de caseína – têmpera a caseína.

PINTURA A TÊMPERA

A técnica da pintura a encáustica
            A encáustica é uma técnica pictórica que utiliza como aglutinante dos pigmentos a cera de abelha diluída em uma fonte de calor. As tintas são aplicadas sobre o suporte quando ainda estão quentes e fixam-se sobre o mesmo após resfriarem-se.
            Existe também a encáustica a frio, ou seja, o procedimento que utiliza a emulsão de cera como aglutinante. Para alguns autores este procedimento não é considerado uma pintura com encáustica, mas sim uma têmpera à cera.
            Alguns artistas fazem uma pintura qualquer, passam cera por cima e chamam a este procedimento de encáustica. Isto não é correto. Na verdade eles fizeram uma pintura e aplicaram sobre a mesma um verniz de cera. Podemos até dizer que se trata de uma encausticação mas não de uma pintura a técnica da encáustica.



A técnica da pintura dos ícones
            A palavra grega eikon significa: imagem, mas nem todas as imagens podem ser chamadas de ícone. O ícone é uma imagem pintada que tem como finalidade primária elevar o coração e a mente das pessoas ao transcendente. A mentalidade ocidental tende a reduzir o ícone a uma genérica imagem religiosa, quando na realidade está ligado a um modelo e tradição da Igreja, pois é nesta que se inspira e nutre.
            O ícone não é uma arte do passado, não é um objeto para colecionadores de arte e nem mesmo um talismã que protege alguém do mal. É como uma lâmpada acesa. Nasceu na cultura bizantina, recolhendo em si muitas influencias estilísticas. No século VI d.C. adquire maturidade e autonomia como arte.
            O iconógrafo é aquele que transcreve os ícones que foram legados pela tradição da Igreja, e para cumprir esta tarefa necessita da fé, conhecimentos técnicos e sensibilidade. Também é necessário saber desenhar e conhecer toda a simbologia relacionada a sua arte.
            Sob o ponto de vista técnico, para a transcrição de um ícone são necessários: a preparação do suporte; o desenho sobre o suporte; a douração; a aplicação das camadas de cor até finalizar a pintura; a execução da grafia; a aplicação do verniz protetivo final. Os materiais utilizados devem ser naturais e verdadeiros.
            O suporte deve ser de madeira de boa qualidade (cedro, louro freijó, mogno, pinho) sem defeitos e maciço. As madeiras de fibras regulares, não muito macias e nem muito duras são as mais adequadas. Evitam-se as madeiras muito resinosas pois dificultam a aderência da base de preparação. Sobre o suporte de madeira cola-se uma tela de linho ou de algodão. Depois aplicam-se, ao menos, oito camadas (demãos) de uma base de preparação de cor branca. Após a secagem completa, esta base, deve ser lixada para que fique totalmente lisa.
            O desenho é realizado sobre este suporte, utilizando apenas água misturada com pigmento marrom. O desenho pode ser também inciso (com sulcos). Terminado o desenho faz-se a aplicação da folha de ouro nas áreas definidas (fundos e auréolas). Depois, aplica-se uma emulsão de gema de ovo sobre o desenho, exceto nas partes douradas. Quando seca a emulsão inicia-se a pintura na técnica da têmpera a ovo.
As tintas são confeccionadas pelo próprio iconógrafo e servem apenas para o momento em que estiver pintando. Elas não podem ser conservadas de um dia para o outro pois se deterioram. A técnica da pintura a têmpera exige muita paciência e calma, para que se obtenha uma determinada cor é necessário fazer muitas sobreposições e esperar que as camadas de cor anteriores estejam secas, podendo assim aplicar as camadas seguintes. Partindo do tom escuro até chegar gradualmente aos pontos de luz e quando a pintura estiver pronta, fazem-se as inscrições que irão identificar o ícone.
Quando estiver completamente seca a pintura, no mínimo dois meses, aplica-se o verniz (olifa) no qual predomina o óleo de linhaça, depois de seco finaliza-se com uma demão de cera de abelha e só então se diz que o trabalho do iconógrafo está concluído.
            Antes de tornar-se um objeto de culto, o ícone, deve receber uma benção apropriada numa missa ou liturgia.
(Frei Celso Bordignon, Caxias do Sul, outubro de 2007)

Restauração de obras de arte
            O procedimento correto seria – conservar para não restaurar. Normalmente quando um objeto ou uma obra de arte chega ao Atelier de Restauro já está gravemente avariada. Muitas vezes com acentuado processo de deterioração. O intervento do conservador-restaurador inicia com uma análise e diagnóstico pormenorizado da obra. Identifica os problemas que ela apresenta bem como as causas dos processos de deterioração. Depois disto decide os procedimentos que serão utilizados no intervento. A documentação fotográfica antes, durante e no final do intervento tem como objetivo o registro de todo o processo de restauração. Os materiais utilizados no intervento deverão ser adequados e reversíveis. Todo o trabalho de restauro deve ser documentado para que futuramente, se houver um novo intervento, todas essas informação serão úteis para o restaurador que fará o intervento.